Macau e Goa

Macau olhada de Goa

O Diário de Macau “ponto final” escreve um artigo relatando as experiências de Rogério Miguel Puga em Goa e a relação com Macau. Para Puga “A atitude – política – de Macau e da China perante a lusofonia, nem que seja apenas do ponto de vista estratégico e económico, é bem diferente e menos ressentida que a goesa, onde, como é fácil de entender, ainda se fazem subsistir muitos fantasmas (pós-)coloniais.”

Rogério Miguel Puga está na Índia, onde apresentou um conjunto de palestras, entre elas “Is There a Lusophone Macau?”, na Universidade de Goa, erguida em Pangim. Agora, aproveita o tempo que lhe resta numa cidade em que, diz, subsistem fantasmas pós-coloniais.

Pedro Galinha

Partiu para a Índia com trabalho marcado, mas não resistiu a prolongar a sua estadia com o objectivo de conhecer Goa e “estudá-la não textualizada ou narrada”. Do que já viu, o académico português Rogério Miguel Puga consegue estabelecer “pontos de contacto” com Macau e, também por isso, desafiou uma plateia que o escutou na Universidade de Goa a fazer o mesmo.

As respostas, explica, foram surgindo, concentrando-se “no que diz respeito ao uso e valor da língua e da cultura portuguesa, quer pela população, quer pelo discurso político”.

Já sobre a RAEM, “o público ficou surpreendido com a realidade da Macau contemporânea e com a atitude que o território e a China têm perante a lusofonia, enquanto mercado económico”.

“Alguns dos presentes confessaram que irão passar a olhar para Macau como possível destino de trabalho, no que diz respeito ao ensino da língua portuguesa”, revela o professor da Universidade Nova de Lisboa (UNL).

Apesar de, um pouco por todo o mundo, os casinos serem a marca do território, na Índia, concretamente em Goa, persiste “uma imagem romantizada de um espaço lusófono, onde Camões também residiu” e a ideia de “um entreposto comercial envolto das riquezas da China e do Extremo Oriente”.

“Muitas das antigas moradias portuguesas ainda contêm exótica e valiosa porcelana chinesa, inclusive do século XVI, a que os goeses chamam ‘Macau Plates’ [loiça de Macau], o que é interessante, pois a Macau lusófona era e é tida como o local de origem dessa porcelana, funcionando, portanto, como metonímia para a China”, mostra Rogério Miguel Puga que, em Goa, vê também detalhes da Macau do século XIX “plasmada por George Chinnery” e “até janelas com lâminas de casca de ostra”.

Fantasmas pós-coloniais

“A atitude – política – de Macau e da China perante a lusofonia, nem que seja apenas do ponto de vista estratégico e económico, é bem diferente e menos ressentida que a goesa, onde, como é fácil de entender, ainda se fazem subsistir muitos fantasmas (pós-)coloniais”. É desta forma que o académico da UNL sintetiza aquilo que vai sentindo a cada passo que dá, pela primeira vez, nos territórios da antiga Índia Portuguesa.

No que respeita às gentes que ali vivem, Rogério Miguel Puga não hesita também em dizer que a comunidade luso-descendente “é marcada por ansiedades e necessidades específicas em torno da definição da sua identidade luso-asiática”.

“No fundo, é um passado que se reflecte no presente e que deveria ser rentabilizado no futuro sem fantasmas traumáticos (pós-)coloniais por todos os espaços lusófonos”, remata.

Em comparação com Macau, o professor universitário realça a quantidade de património arquitectónico de cariz português: “Em Goa, estamos sempre rodeados de moradias, fortes e igrejas solitárias que nos recordam a presença portuguesa. Nas Fontainhas, há ainda a música, a culinária lusófona, a língua portuguesa e os nomes de ruas como, por exemplo, Travessa do Magriço.”

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