Aurobindo Xavier*
No espaço Índico, significando aqui os países e regiões que confinam ou têm os seus interesses geoestratégicos no Oceano Índico, existem afinidades lusófonas significativas. Assim temos Moçambique e Timor Leste como países de língua oficial portuguesa, Macau e Goa como regiões relevantes de influência portuguesa e ainda outros núcleos locais com algumas afinidades com a Lusofonia como em Malaca ou Sri Lanka. O espaço Índico tem portanto um grande potencial lusófono.
É a Índia que lidera este espaço, ocupando como potência emergente uma posição central na região do Oceano Índico onde tem importância estratégica devido à sua dimensão, posição geográfica e relevância com respeito à segurança energética global.
Em termos de mercado, o Oceano Índico é responsável por metade do tráfego mundial de contentores, e cerca de 70% do transporte mundial de derivados de petróleo cruzam suas águas.
O que fazer, de uma perspectiva lusófona, desta primazia da Índia no espaço Índico e da sua vantagem geográfica e novo poder naval no Oceano Índico?
É necessário, antes de mais, reforçar e consolidar o papel lusófono de Goa no contexto indiano e, paralelamente, valorizar o histórico eixo Índico da lusofonia sensibilizando Nova Deli para as imensas oportunidades no mundo lusófono.
Espaço lusófono em Goa
Sobre a melhor maneira e as melhores políticas locais em Goa para se reforçar a lusofonia em Goa, bastante se tem feito, particularmente por via do Instituto Camões e da Fundação Oriente de Lisboa. Foi um trabalho pioneiro em Goa depois de 1974, e em particular desde os anos 1990s, e está a dar os seus frutos. Mas a globalização a que estamos a assistir obriga-nos também em Goa a complementar e reforçar esses esforços que estão a ser feitos a partir de Lisboa, ancorando-os em mais iniciativas locais, a partir de Goa. E foi nesse sentido que se fundou por exemplo a Sociedade Lusófona de Goa. Há que alargar em Goa a lusofonia estendendo-a para além de Lisboa, ligando a região a outros pontos, de São Paulo a Maputo e Macau. A globalização que abrange também a Lusofonia obriga-nos a isso, se queremos aproveitar as potencialidades existentes no espaço Índico.
O Eixo Índico da Lusofonia
Por razões essencialmente de natureza histórica, migratória e económica, a Índia teve importantes relações com Moçambique que estão a ser consolidadas, particularmente sob o ponto de vista económico, nos últimos anos. Assim, por exemplo a Índia, carente em recursos petrolíferos, tem presentemente uma grande rede de importação de carvão oriunda de Moçambique. Mas devido às origens da população indiana em Moçambique, que não tem o seu forte necessariamente em Goa, as relações bilaterais entre Moçambique e Goa pouco significado tiveram. E existe aqui um potencial para a utilização de Goa, no âmbito Índia-Moçambique, que se poderá desenvolver com mais afinco.
Quanto a Timor Leste, a Índia poucas relações tem tido, e mesmo essas apenas esporadicamente. Talvez porque a Índia esteja mais preocupada com os países mais fortes da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático).
Presentemente os interesses económicos da Índia em Timor restringem-se praticamente a alguns investimentos no sector de petróleo e gás.
Em relação a Macau, a China está a desenvolver de uma maneira avançada as suas relações como o espaço lusófono que vão muito mais além do espaço Índico e não se centram neste. E tem tido muito sucesso nessas suas iniciativas, talvez ainda mais do que a Índia. Mas assiste-se a uma mudança nos últimos anos: enquanto que o valor total de investimentos da Índia nos Países Lusófonos foi em 2006 de 3 mil milhões de USD em 2012-13 era já de 20 mil milhões de USD.
Mas a China alcançou, já em 2010, 50 mil milhões de USD no seu comércio com os países lusófonos. Paralelamente aos interesses económicos que presentemente Macau tem em Timor Leste restringem-se ao sector de petróleo e gás e na exploração de minerais como manganés ou mármore.
Goa e Timor Leste
Continuando no Eixo Índico da Lusofonia, temos as relações entre Timor Leste e Goa. Historicamente essas relações foram boas e frutíferas, particularmente a nível administrativo e religioso.
Agora há que reconstituir os elos entre Timor Leste e Goa que se foram perdendo por razões de natureza política e conjuntural depois de 1961 e particularmente depois de 1975 quando Timor Leste foi invadidada pela Indonésia. Depois de 2002, data de independência de Timor Leste, foram parcas as relações entre Timor Leste e Goa. A Índia ainda passa as suas relações diplomáticas com Díli por via da sua embaixada em Jacarta.
Agora, no contexto da globalização e da novas realidades políticas, as relações entre Timor Leste e Goa teriam que ter uma estratégia centrada nos esforços que a Índia está a realizar na sua aproximação a Timor Leste. E neste contexto Goa deveria poderia ter um lugar priviligiado aproveitando das sinergias lusófonas, em benefício da Índia.
A tradição nas relações históricas entre Timor Leste e Goa poderiam a meu ver ser uma espécie de um catalizador moderno, devidamente adaptado e adequado, para beneficiar Timor Leste nas suas relações com a Índia e, porque não, defender de uma maneira eficiente e optimizada melhor os interesses timorenses na Índia. Reforçaria o Eixo Índico da Lusofonia e particularmente Timor na Índia e ainda teria o benefício de reaproximar Goa de Timor.
Há que aproveitar de uma maneira mais eficiente as oportunidades históricas que estão a surgir neste momento, que considero historicamente relevante, de uma maneira inteligente e estrategicamente adequada. Deve-se explorar ao máximo as possibilidades de desenvolver relações em diversos sectores em mútuo benefício de Timor Leste e Índia, em particular da identidade lusófona de Goa.
*Presidente da Sociedade Lusófona de Goa