Tivemos a possibilidade de visitar em Agosto de 2014, em Lamego, no Norte de Portugal, a exposição de fotografias do século XIX referentes à Ásia, com o título “Viagem ao Oriente no Século XIX”.
São 61 fotografias datadas de entre 1880 e 1895 e pertencentes à família Mascarenhas Gaivão, que as coleccionou, como se estas correspondessem a uma viagem de portugueses. A viagem tem início no Egipto, continua na Índia (Bombaim, Damão, Nagar-Aveli e Goa) e termina em Timor.
O curador da exposição José Pessoa, responsável pela secção de inventário do Museu de Lamego, explicou em conversa à Sociedade Lusófona de Goa – Lusophone Society of Goa (LSG), que se trata de um “excecional núcleo de fotografias do século XIX que exprime toda a magia da fotografia, num tempo em que a Europa se fascinava com as imagens deste novo meio, que possibilitava um novo conhecimento do planeta e das múltiplas culturas distantes”.
José Pessoa elucidou-nos em detalhe sobre a técnica de fotografia utilizada nas fotos da exposição “provas positivas, feitas a partir de negativos de vidro pelo processo de colódio húmido e impressas em albuminas”. Salientou no entanto que não é só a técnica que está patente nas belissimas fotografias mas que “esta é uma viagem pelo Oriente, entre 1880 e 1895, no auge da descoberta e do fascínio da Europa pelo Oriente”.
A exposição atraiu-nos particularmente por algumas das fotografias relacionadas com o antigo Estado da Índia. Quase únicas são as do Seminário de Chorão, que se situava na ilha do mesmo nome. Antes este Seminário chamou-se de “Real Colégio de Educação de Chorão“, onde se ensinava o concani aos candidatos jesuítas. Já em 1565, os Jesuítas transferiram para aqui o Noviciado de São Paulo o Velho da Velha Cidade. Em Chorão permaneceu o Noviciado até a extinção da Companhia de Jesus, que teve lugar em Goa em 1759. É interessante saber que neste Noviciado professou Fernão Mendes Pinto, o autor das Peregrinações, na igreja de Nossa Senhora da Graça, onde fez a resolução de entrar na Companhia de Jesus.
De grande beleza são as fotografias retocadas a cores de nativos de Nagar-Aveli. José Pessoa teve a paciência e a gentileza de nos explicar também esta antiga técnica de coloração. Em 1783, Nagar-Aveli foi cedida aos portugueses, como compensação pelo afundamento de um navio português pela marinha maratha. Posteriormente, em 1785, o Império Português comprou Dadrá, inserindo-a no Estado Português da Índia. Foi a primeira colônia a desmembrar-se do Império pela ocupação da União Indiana, em 1954.
Sem querer entrar mais em detalhes sobre esta surpreendente exposição, não queríamos terminar sem referir à fotografia do rei de Sundem com as suas esposas. Talvez alguns dos leitores não saibam mas Goa teve um clã real chamado de Sonda Raja ou Soundekar Raja ou Rei de Sundem em português. Eram senhores feudais que serviram as dinastias e impérios desde os Vijaynagara aos Marathas passando por Adil Shah de Bijapur e finalmente os portugueses. A casa real de 250 anos, o palácio de Shivtirth, situa-se em Ponda e a propriedade inclui o templo de Nageshi. Em 1907 o rei de Sundem enviava uma carta ao rei D. Carlos de Portugal “cuja amizade, protecção e munificiencia sejam perpétuas”.
Uma exposição no amplo e agradável espaço do Museu Diocesano de Lamego que foi organizada com esmero e muito cuidado por José Pessoa e a sua equipa.
Sala de exposição Sala principal da Exposição
Foto da esq.: Radjah de Sudem e suas Esposas. Autor: não identificado. Técnica: Albumina. 1884-1894
Foto da dta.: Dança de Roda. Praganã Nagar-Avely. Autor: Adolfo Moniz. Técnica: Albumina colorida manualmente. 1884-1894
Aurobindo Xavier (dta.), presidente da LSG em conversa com José Pessoa, curador da Exposição. Em Lamego