A Sociedade Lusófona de Goa (LSG) em colaboração com a Câmara Municipal de Mafra (Portugal) organiza uma Exposição de fotografias de Adelino Fernandes, fotógrafo profissional de Goa, Índia, na Casa de Cultura Jaime Lobo e Silva, Ericeira (Portugal).
A exposição sob o título “Janelas Goesas – Arquitetura Indo-Portuguesa” mostra 22 fotografias de janelas goesas que retratam as típicas janelas de arquitetura indo-portuguesa da cidade de Margão, em Goa.
A exposição será inaugurada no dia 3 de Junho 2017 (sábado) pelas 18:00 H.
Morada e horário da Casa da Cultura
Rua Mendes Leal
2655-305 Ericeira
Telefone: 261 860 550
Horário:
3.ª a 6.ª feira, das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00
Sábado e domingo, das 15h00 às 18h00
Encerra à 2.ª feira e feriados.
Arquitetura indo-portuguesa
A arquitetura indo-portuguesa, conforme classificação de Helder Carita, identifica dois ciclos na arquitetura civil indo-portuguesa, o primeiro ciclo, relativo às construções das residências por parte dos colonos portugueses, a que designa arquitetura colonial e o segundo ciclo, relativo às construções de habitações por parte das famílias autóctones, brâmanes e chardós a qual designa de arquitetura indo-portuguesa. Apesar de considerar que ambos os ciclos são indo-portugueses, Helder Carita frisa que os mesmos tem ênfases diferentes.
A cidade de Margão
A cidade de Margão é a segunda maior cidade do estado de Goa, na Índia. É a cidade mais agitada do estado, constituindo a sede do distrito de Goa Sul. É ainda sede do concelho (taluka) de Salsete.
Margão é uma das mais antigas cidades de Goa e é famosa pelas enormes mansões em estilo indo-português que povoam a sua paisagem. A cidade é também conhecida como a capital cultural de Goa.
É na taluka de Salsete que existe um maior número de residências sobradadas, propriedade das elites de Goa e que se encontram em bom estado de conservação. E o maior número de casas sobradadas concentra-se em Margão, estando normalmente acessíveis, sem muro, à face da rua, ou, por vezes, surgindo com um pequeno muro a separar a casa da via pública.
As janelas indo-portuguesas
As casas ancestrais dos hindus de Goa não apresentavam varandas viradas para o exterior, sendo assim, o horizonte não era manifestado para o exterior, mas exposto para os pátios interiores das suas habitações, enquanto que, nas casas pátio cristãs as varandas são uma componente integrante da sua arquitectura, apropriada ao modo de vida. As janelas indo-portuguesas passam a ter um novo horizonte, viradas para o exterior da casa. A sua função está dentro do esquema usado para a ventilação das residências, correspondendo ao desenvolvimento do modelo da janela de sacada veiculado nas casas sobrado, de origem genuinamente portuguesa, ligadas à introdução da varanda.
As janelas de sacada à face em Salsete são protegidas pelo beirado, exigindo uma aplicação de soluções que mais pudessem garantir a sombra durante os dias de verão e evitasse a chuva direta durante as monções. Assim surgiram as chapas metálicas onduladas.
Exemplos de Salsete
Em Salsete encontram-se vários exemplos de casas sobrado que apresentam janelas de peitoril no piso térreo e expõem janelas de sacada no primeiro piso. As janelas afiguram-se de diversas formas, de estrutura retilínea ou de verga reta, ortogonais simples, com arcos de volta perfeita, com arcos abatidos, com arcos trilobados, com arcos quebrados e arcos contracurvados envoltos de molduras, com correspondência nos vãos. A estrutura dos vãos, a soleira, as ombreiras e a padieira são de madeira, assim como o caixilho.
Emergiram as varandas autónomas, estreitas e corridas apoiadas em mísulas ou sobre um elemento corrido, as quais detinham um grande efeito decorativo, tendo mais tarde sido alargadas, passando a apresentar os telhados autónomos. As janelas viradas para o exterior, passam a ser comuns nas casas cristãs de Goa, tornando-se ornamentadas.
Carepas nas janelas
Antes do vidro se tornar acessível em Goa, recorria-se ao uso de carepas nas janelas, tendo sido largamente utilizado. Para além da função de protegerem os ambientes da imensa luz, o próprio processo de disposição das carepas em escama, levava a uma livre movimentação de ar, entre o interior e o exterior. Também permitiam trespassar uma luminosidade translúcida, possibilitando uma atmosfera suave. Esta ambiência proporcionava às senhoras a oportunidade de observarem o exterior sem serem vistas da rua. Hoje a maioria das casas possui janelas de vidro. Por vezes encontramos a utilização do vidro de cor.
As varandas a partir do século XVIII passam a ser os espaços preferidos das senhoras, sem a preocupação antiga de se resguardarem, as carepas tendem a desaparecer e o teor decorativo passa a aglomerar-se nos gradeamentos das varandas e nos prumos de sustentação dos telheiros.
A arquitetura civil dos séculos XVIII e XIX alcança um novo gosto, liberto de condicionalismos da legislação camarária, levado a cabo por uma nova tendência para a manifestação do luxo por parte das famílias autóctones privilegiadas, facultando soluções mais apropriadas às condições climatéricas da Índia.
(O texto acima foi extraído do artigo de Lígia Sampaio – Casas das Elites de Salsete em Goa, entre o Século XVII e o Século XIX. Revista da Faculdade de Letras. Ciências e Técnicas do Património. Porto, vol. IX-XI, 2010-2012)