O Museu da Língua Portuguesa, um espaço que oferece ao visitante uma viagem através da diversidade da língua portuguesa, foi reaberto ao público no passado dia 31 de julho. O museu que fica na Estação da Luz, um edifício do final do século 19, no centro de São Paulo, foi destruído por um incêndio de grandes proporções em 21 de dezembro de 2015 e foi completamente reformado.
A cerimónia de reabertura contou com a presença de autoridades brasileiras e internacionais, entre elas os Presidentes de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, o Ministro da Cultura de Angola, Jomo Francisco Fortunato, os ex-Presidentes brasileiros Fernando Henrique Cardoso e Michel Temer e o Prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes.
Os chefes de Estado de países lusófonos elogiaram a parceria entre o poder público e a iniciativa privada para reerguer o espaço, considerado um dos mais importantes patrimônios culturais do mundo. “Seis anos depois estamos aqui não para esquecer as cinzas do passado, mas a partir delas construirmos o futuro nessa potência de todas as eras que se chama Brasil, nessa metrópole de tantas línguas que se chama São Paulo”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal.
O presidente de Cabo Verde, Jorge Carlos Fonseca, falou sobre a importância da união dos países lusófonos. “A língua se cria e se recria através dos contatos entre diferentes comunidades. Que sejamos mais que uma comunidade de estados, uma comunidade de povos que partilham valores comuns como a fraternidade, a liberdade e a democracia, com base no pilar fundamental que é a língua portuguesa, a língua de nós todos”, afirmou.
No dia em que reabriu as portas, o Museu estreou a mais recente ordem honorífica portuguesa, recebendo das mãos de Marcelo Rebelo de Sousa, a nova medalha Camões. Criada em Junho passado por iniciativa da Assembleia da República Portuguesa, a medalha Camões, destina-se a “galardoar serviços relevantes prestados por pessoas singulares ou coletivas nacionais ou estrangeiras à cultura portuguesa, à sua projeção no mundo, à conservação dos laços dos emigrantes com a mãe-pátria, à promoção da língua portuguesa e à intensificação das relações culturais entre os povos e as comunidades que se exprimam em português”. A condecoração foi atribuída “em nome do futuro” da língua portuguesa, para o qual “os mais jovens e mais numerosos” são “mais essenciais”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa numa alusão ao número de falantes brasileiros, que apenas em São Paulo são mais de 12 milhões. “É esse futuro que, em nome de Portugal e de todos os portugueses, celebro, agraciando o Museu da Língua Portuguesa com uma ordem honorífica acabada de criar”, disse Marcelo Rebelo de Sousa, acrescentando: “Este museu será o primeiro dos primeiros galardoados. Este museu, que o mesmo é dizer este São Paulo, este Brasil e esta língua portuguesa que nos une por todo o mundo”.
Na cerimônia oficial de reinauguração o Hino Nacional Brasileiro e o Hino de Portugal foram cantados por Fafá de Belém.
“Nós da Língua Portuguesa”, uma exposição que os visitantes poderão agora ver no Museu, traz uma espécie de caleidoscópio, uma tela que explora cantos, poemas e imagens com base em pesquisas em locais como Moçambique, Angola, Cabo Verde, Portugal e Macau (China), com a consultoria de especialistas e escritores como o angolano José Eduardo Agualusa e o moçambicano Mia Couto. “Essa exposição trata da presença global do português, falado por 261 milhões de pessoas espalhadas por todos os continentes. Mesmo utilizando o mesmo idioma, cada um desses lugares tem suas especificidades, sotaques e cultura”, disse Isa Grinspum Ferraz, curadora especial do Museu.
O museu abriu ao público pela primeira vez em 2006, tendo escolhido como casa a cidade de São Paulo, que abriga a maior população de falantes da língua portuguesa em todo o mundo
O museu recebeu, entre março de 2006 e até o incêndio em dezembro de 2015, cerca de 4 milhões de visitantes, com mais de 30 exposições temporárias além de cursos, palestras, debates e apresentações artísticas. Entre os homenageados com exposições, encontram-se escritores como Clarice Lispector, Machado de Assis, Cora Coralina, Fernando Pessoa, Oswald de Andrade, Jorge Amado, Rubem Braga, Guimarães Rosa, Agustina Bessa-Luís e Gilberto Freyre.
A reconstrução do Museu foi estabelecida pelo Governo de São Paulo. As obras começaram em 2017 e foram divididas em três fases: restauro do interior e das fachadas; reconstrução da cobertura destruída no incêndio; e intervenções de ampliação e melhoria.
O Governo de São Paulo, em conjunto com a Fundação Roberto Marinho, recebeu o suporte de dezenas de parceiros. O investimento total foi de mais de R$ 85 milhões (cerca de 14 milhões de euros), incluindo a indenização do seguro e o patrocínio de diversas empresas, além do aporte do Estado e do apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, do ID Brasil e do Governo Federal.
Durante a reconstrução, o Museu continuou em contato com o público por meio de atividades culturais e educativas, como a mostra itinerante “A Língua Portuguesa em Nós”, apresentada em 2018 em Cabo Verde, Moçambique e Angola, na África; em Portugal e no Brasil.